Não se nasce mulher: torna-se

Dia da Mulher traz à tona questões levantadas por Simone de Beauvoir

Por Carolina Bastos

A Europa comemorou o centenário de nascimento da feminista francesa, Simone de Beauvoir, em 9 janeiro de 2008. Na ocasião, França e Alemanha marcaram a data com debates, exibições de documentários e publicações de livros e artigos assinados pela homenageada.

Apesar das várias facetas de Simone – feminista, escritora, existencialista – foi a primeira que lhe rendeu fama mundial. Ao lançar “O Segundo Sexo” em 1949, a autora afirmou que as diferenças entre gêneros não são causadas por questões biológicas (como nos fazem acreditar até hoje), e sim por fatores sociais. O livro foi traduzido para 30 idiomas, teve mais de 20 mil exemplares vendidos na primeira semana e entrou na lista de livros proibidos pelo Vaticano.

O legado deixado por Simone é de grande valor e merece debates e homenagens. Segundo Gabriela do Vale, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM): “Beauvoir enfatizou a importância do direito ao trabalho, da autonomia financeira, do uso do anticoncepcional, questionou profundamente a maternidade como única opção para dar sentido à vida de uma mulher, o casamento formal como única forma de amar, e isso na década de 40”.

Para Joana Maria Pedro, professora de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autora do artigo “Monumentos ao Segundo Sexo de Simone de Beauvoir”: “a escritora deu consistência acadêmica para a discussão sobre a desigualdade de gênero; antes dela, o assunto não entrava na universidade por não ser considerado sério”.

Simone de Beauvoir teve um impacto marcante nas mulheres da minha geração, hoje entre 60 e 70 anos, não só pela obra, mas também graças a todas as histórias que ouvíamos sobre existencialismo e a relação aberta dela com Sartre etc”, explica a antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu/Unicamp, Mariza Corrêa.

De lá pra cá

“O Segundo Sexo” foi um marco e contribuiu para que mulheres do mundo todo conquistassem direitos antes reservados somente aos homens como, por exemplo, estudar, votar e trabalhar. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido no sentido de dar continuidade às propostas de Simone de Beauvoir.

Infelizmente a mídia trata as lutas feministas como superadas ao reforçar o discurso segundo o qual as mulheres dominam cada vez mais o mercado de trabalho, votam, fazem sexo “livremente”, escolhem se e quando serão mães, portanto, não faz sentido o “embolorado movimento feminista”. Mas basta checar alguns dados para constatar a urgência de novas conquistas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em média, apenas 20% dos cargos públicos de comando são ocupados por mulheres. Há poucas profissionais atuando nos três poderes – legislativo, executivo e judiciário – e o mesmo ocorre nos altos escalões do mundo corporativo.

Outra questão levantada por Beauvoir e ainda não resolvida é sobre o aborto. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 31% dos casos de gravidez no Brasil terminarão abortados.

Os índices de violência continuam alarmantes. A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil e, em cada dez mulheres, sete são vítimas de seus companheiros, constata o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulher (Unifem). A Lei Maria da Penha é uma importante conquista, pois cria mecanismos que coíbem e previnem a violência doméstica contra mulheres. No entanto, ainda é pouco diante de tantas outras demandas.

Com a globalização, hoje se sabe como vivem as mulheres no mundo todo: brasileiras, árabes, africanas, israelitas etc. É fato que muitas delas ainda não conquistaram seu espaço político-social e, mesmo nos países que contaram com um movimento feminista atuante, ainda há mulheres subjugadas de alguma maneira.

~ por Spin Doctors em 02/03/2010.

2 Respostas to “Não se nasce mulher: torna-se”

  1. Carol, concordo com as questão defendidas pela Simone de Beauvoir – elas são justas e ainda podem e devem render novos direitos às mulheres – , só acho que as feministas esqueceram assimilar a elegância e o estilo sutil da escritora francesa.

  2. Concordo. Elegância nunca é demais, em qualquer situação.

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